Todas as grandes cidades são fruto do seu sítio e da sua história. Lisboa tem tanto de Tejo como de luz e cronologia. Fenícios, romanos, árabes, cruzados, navegadores, marqueses, poetas, fadistas, carbonários, marialvas, espiões, varinas cantando sardinhas, amoladores chilreando gaitas-de-beiços em passo lento, elétricos ritmando mecanicamente entre a Graça e os Prazeres… Lisboa foi feita pelo tempo e pelas suas gentes. Lisboa, cidade de luzes, de sombras que se perdem por entre as colinas, de céus azuis rendilhando janelas e varandas, de casario ondulado sobre as ruas. Mistura de gentes e de lugar. Olhando Lisboa hoje, mais de vinte anos depois de ter escolhido os Açores como o lugar da minha vida, sinto, como nunca, essa condição mutável da cidade. A Lisboa em que nasci era uma cidade dispersa, dividida entre bairros e vivências díspares. A Lisboa que deixei no final do século passado era, ainda, uma cidade atónita, em busca de si mesma, resistindo entre a consciência do passado e a euforia do futuro. Hoje, Lisboa é uma cidade plena, aberta, vibrante, feita dos seus lugares e das suas gentes, tanto as que a habitam como as que a visitam, feita, enfim, de todos os que a vivem. Numa palavra – cosmopolita. Saiba Ponta Delgada abrir-se, também, assim - com inteligência…
in Açoriano Oriental
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