Folheando os
periódicos locais, no rotineiro café matinal na Tabacaria, reparo com desgosto na
tendência actual dos opinadores, digamos parlamentarmente no activo, para
escreverem sobre si próprios. É como se as suas colunas nos jornais se tivessem
transformado em cenas dos próximos capítulos dos apartes parlamentares. Recentemente,
esta propensão assumiu novos limiares no submundo da internet. Numa série de
posts e comentários vários protagonistas efabularam sobre si próprios, o seu
estatuto, a sua verdade, o ângulo e a visão, mais ou menos destorcida, da sua própria
narrativa política. É como se todo o espaço político se reduzisse à mera existência
dos seus protagonistas. O que dizem, o que fazem, como se relacionam e se destratam
uns aos outros. Como se o relevante fossem os políticos em vez das políticas. São
os próprios actores do teatro político que se menorizam a este papel e quando
pretendem parecer que pensam o futuro da região fazem-no em fúteis comissões
eventuais sobre a reforma da autonomia. O papel dos políticos é escutar e
ajudar os outros e não fecharem-se sobre si mesmos. Razão tem Álvaro Monjardino
quando alerta que o importante não é mexer nas instituições, mas sim um modelo
de desenvolvimento económico sustentável para a autonomia. E isso, creio eu,
não se encontra no Facebook…
sexta-feira, 26 de maio de 2017
quinta-feira, 18 de maio de 2017
Café Royal XX
Da vã euforia
Já não falta cumprir-se Portugal! O 13 de Maio foi de glória, santificado por Sua Santidade O Papa e tudo. Fátima, Benfica, Eurovisão, pela 1ª vez na história todos os lares portugueses rejubilaram, os homens com o Glorioso, as senhoras com o Salvador. Mas a chama do país não esmoreceu Domingo. Segunda-feira acordamos com a boa nova dos 2,8%. A economia acelera, dizem-nos os inquéritos das estatísticas. Aleluia! Habemus crescimento! O otimismo transbordou do eixo São Bento/Belém e inundou as folhas de Excel. Só que, no mesmo dia, a mesma estatística revelou, impiedosamente, que um quarto dos portugueses vive, ou está prestes a viver, no limiar da pobreza. Incongruência? Não. O facto é que o esforço produtivo do país continua afundado no pântano burocrático e fiscal e não cria riqueza. Não há uma base produtiva sólida, tudo é etéreo e vago e prestes a desmoronar ao mínimo abalo. É que não se trata da reposição, justa, de rendimentos, nem do crescimento da produção interna alicerçada num tecido económico sólido e em bens transacionáveis de valor acrescentado, o incremento agora anunciado é obra do investimento externo e, abjetamente, dos baixos salários. A económica portuguesa é, ainda, inimiga do seu próprio fortalecimento e é vã toda esta euforia quando vivemos num país em que empreendedor rima com dor.
in Açoriano Oriental
Já não falta cumprir-se Portugal! O 13 de Maio foi de glória, santificado por Sua Santidade O Papa e tudo. Fátima, Benfica, Eurovisão, pela 1ª vez na história todos os lares portugueses rejubilaram, os homens com o Glorioso, as senhoras com o Salvador. Mas a chama do país não esmoreceu Domingo. Segunda-feira acordamos com a boa nova dos 2,8%. A economia acelera, dizem-nos os inquéritos das estatísticas. Aleluia! Habemus crescimento! O otimismo transbordou do eixo São Bento/Belém e inundou as folhas de Excel. Só que, no mesmo dia, a mesma estatística revelou, impiedosamente, que um quarto dos portugueses vive, ou está prestes a viver, no limiar da pobreza. Incongruência? Não. O facto é que o esforço produtivo do país continua afundado no pântano burocrático e fiscal e não cria riqueza. Não há uma base produtiva sólida, tudo é etéreo e vago e prestes a desmoronar ao mínimo abalo. É que não se trata da reposição, justa, de rendimentos, nem do crescimento da produção interna alicerçada num tecido económico sólido e em bens transacionáveis de valor acrescentado, o incremento agora anunciado é obra do investimento externo e, abjetamente, dos baixos salários. A económica portuguesa é, ainda, inimiga do seu próprio fortalecimento e é vã toda esta euforia quando vivemos num país em que empreendedor rima com dor.
in Açoriano Oriental
sexta-feira, 12 de maio de 2017
Café Royal XIX
O Fantasma
No Porto, após
4 anos de idílica comunhão de bens, Rui Moreira e o PS acordaram um divórcio
amigável. Depois de, pela voz da sua secretária-geral-adjunta, o PS ter vindo a
público dizer que quem usava as calças lá em casa era o seu partido, Rui
Moreira, bem, não se ficou e pontapeou os socialistas para fora da cama. Até
aqui nada de anormal, é política, mas, Rui Moreira não ficou por aqui. O autarca
puxou da culatra da ameaça centralista para justificar a separação, acusando o
PS de estar a “condicionar a partir de
Lisboa”. Ora, é exactamente aqui que a coisa se torna séria. Quando dá
jeito, reclama-se da capital o investimento e a intervenção, mas, quando não,
agita-se com pujança o estandarte do regionalismo e a “questão centralista”. A
verdade é que esta só existe porque as regiões o permitem e, em certa medida, o
exigem. Sempre que reivindicam que o centro pague o custo da sua existência, as
periferias estão a legitimar
que este abuse do seu poder. Essa é que é a verdadeira “questão centralista”.
Porque quanto mais autónomas e independentes forem as regiões, seja a que nível
for, económico, cultural, político, etc. menor será a sua vertigem centralista
e muito menos frequentes serão as sinistras aparições desse fantasma chamado
centralismo que tão enraizado está no coração deste país.
sexta-feira, 5 de maio de 2017
Café Royal XVIII
Vidas
Turismo e
Mar são palavrões em voga sempre que alguém, especialmente políticos e
académicos, se quer referir ao futuro do país. A expansão da ZEE e o
crescimento do RevPar são novos desígnios nacionais. A mineração profunda e os
charters de chineses são as especiarias do século XXI. Em Portugal, como
sempre, tudo é quimera e pouco efeito. Quando nos perdemos a mirar o horizonte
esquecemos de ver a onda que morre em espuma nos nossos pés. No último fim-de-semana
fomos flagelados pela notícia de 4 mortos em praias portuguesas. No ano
anterior foram 11 no mesmo período. Ano após ano esta tragédia repete-se.
Vivemos num país que se diz de turismo e de praia. A Califórnia da Europa, disseram
os publicitários (os Açores o Hawai, dissemos nós…)! Mas, como se pode afirmar
isso quando a mais básica segurança na orla marítima é ainda uma miragem ou, no
melhor dos casos, uma sorte, a sorte de ter um surfista por perto numa praia
não vigiada? A aposta num futuro que se sustente no turismo e no mar terá que
passar impreterivelmente pela garantia de segurança nas praias. Tal só será
possível com um corpo permanente e profissional de Nadadores Salvadores, e nem
sequer é preciso ter visto o Baywatch para o perceber, mas, em Portugal, como
sempre, todos assobiam para o lado, Governo, Marinha e Autarquias, sacudindo o
sal dos capotes, uns por receio, outros por altivez e os últimos por avareza.
Entretanto, é um país que se atrasa e são vidas que se perdem…
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