Chuva de verão
Acordamos com a chuva. Acordamos com o som forte e
humedecido da chuva que caía numa torrente cinzenta, espessa e quente. Todo o
horizonte era neblina e água, como se a ilha inteira tivesse sido coberta por
uma nuvem. Aconchegados ainda pela cama, ficamos a ouvir chover. Entrelaçados,
em silêncio, escutando os diferentes sons que se desprendiam da água. Ao fim de
um bocado, como sempre acontece, a chuva parou, as nuvens desataram-se deixando
entrever o azul do céu e o sol. Lá fora, a terra molhada evaporava-se em tufos,
como o vapor das caldeiras subindo pelo ar. Acordamos uma segunda vez, tentando
compreender o dia, refazer os planos de ontem. Nem sequer as aplicações dos
telemóveis tinham previsto a chuva. Nenhum satélite conseguiu antever a vontade
do clima e a sua força súbita. A praia esperaria por nós, enquanto nós
esperávamos que o calor do sol secasse a areia, esperávamos que o calor
refizesse a nossa própria vontade de estar na areia escutando, por entre os
ondulantes barulhos do mar e do riso das crianças, o som crepitante do sol,
quente e luminoso, a derramar-se sobre a nossa pele em mais um dia de Agosto na
ilha.
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