quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Café Royal CXXXV


Chuva de verão

Acordamos com a chuva. Acordamos com o som forte e humedecido da chuva que caía numa torrente cinzenta, espessa e quente. Todo o horizonte era neblina e água, como se a ilha inteira tivesse sido coberta por uma nuvem. Aconchegados ainda pela cama, ficamos a ouvir chover. Entrelaçados, em silêncio, escutando os diferentes sons que se desprendiam da água. Ao fim de um bocado, como sempre acontece, a chuva parou, as nuvens desataram-se deixando entrever o azul do céu e o sol. Lá fora, a terra molhada evaporava-se em tufos, como o vapor das caldeiras subindo pelo ar. Acordamos uma segunda vez, tentando compreender o dia, refazer os planos de ontem. Nem sequer as aplicações dos telemóveis tinham previsto a chuva. Nenhum satélite conseguiu antever a vontade do clima e a sua força súbita. A praia esperaria por nós, enquanto nós esperávamos que o calor do sol secasse a areia, esperávamos que o calor refizesse a nossa própria vontade de estar na areia escutando, por entre os ondulantes barulhos do mar e do riso das crianças, o som crepitante do sol, quente e luminoso, a derramar-se sobre a nossa pele em mais um dia de Agosto na ilha.


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