Deste Verão
Há um adágio popular, recorrente nestes nublados e chuvosos
dias de Agosto, que diz que o Verão nos Açores é tão bom que até o Inverno vem
cá passar o Verão. Os ecrãs das redes sociais estão pilhados de lamentações por
este Verão que nunca foi. E, vemo-los por aí, como zombies, cambaleando pesarosos
pelas ruas molhadas, protegendo-se da chuva com olhos tristes, órfãos do sol,
os veraneantes de Agosto, a quem o clima roubou o Verão. Lá longe, presos nos
seus cubículos, em prédios altos, levaram o ano todo a sonhar com os preciosos
22 dias de férias de Agosto e saiu-lhes isto. Ilhas de bruma. Quem quiser as
monotonias algarvias que poupe nos bilhetes de avião. Aqui não há dias
ensolarados de céus espantosamente azuis. Aqui não há trinta graus de
temperatura, areias finas e brancas e bolas de Berlim. Aqui há o ciclo da água.
Estas são ilhas de cinzas, dos vulcões, que as criaram, e das nuvens, que as
alimentam. E não há prazeres fáceis. O verão nos Açores é um trabalho árduo,
não é para veraneantes. Este Verão não cumpre calendários. É um Verão com
humores. É cínico e irónico e, por vezes, um pouco sádico. Se quiserem dizer que passaram o Verão nos Açores
tirem férias em Outubro.
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