Da humidade
Dormimos descobertos, sem roupa e sem lençóis, abafados
apenas pelo calor e pela humidade. Uma humidade que se cola na pele como se de
um óleo se tratasse, uma espécie de gordura invisível e peganhenta, melada,
gastrópode. Nem sequer a noite vence a humidade. A humidade é omnipresente, é
ubíqua. A humidade é a única constante de Agosto. Tudo o resto é volátil, o sol
é esparso, a chuva intermitente, as ondas vão e vêm na sua cadência ondulada,
como os turistas, nos seus carros alugados, entrando pelas ruas em contra-mão.
Só a humidade se instala na ilha, com armas e bagagens e todas as suas noventas
porcento de percentagens, para a temporada inteira de verão. Ao contrário do
que nos querem fazer crer os meteorologistas, a humidade, nos Açores, no verão,
é tudo menos relativa. É concretíssima, definitiva e incondicional. Nem mesmo os
maravilhosos e aliviantes, embora curtos, banhos de mar conseguem vencer a humidade.
Saindo da água somos imediatamente absorvidos por ela, como se submergíssemos
novamente, como se estivéssemos, na verdade, novamente debaixo de água. No
fundo é isso: o verão nos Açores é estar permanentemente, de uma forma ou de
outra, debaixo de água.
...por alguma razão, que desconheço, a crónica desta semana não saiu no Açoriano Oriental. De qualquer modo, para não quebrar uma série que já corre há 136 semanas, ininterruptamente, aqui fica o registo...
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