A “Questão Coimbrã” foi uma
das mais célebres polémicas da história nacional. Choque intelectual entre duas
gerações, opôs o jovem Antero de Quental e o velho António Feliciano de
Castilho. No cerne da disputa estavam duas concepções distintas do papel da
literatura na sociedade. Para Antero e a sua “Geração de 70”, a literatura
deveria ser o motor da revolução social, por oposição à visão imobilista e
ultrarromântica daquilo a que Antero chamou a “Escola do Elogio Mútuo” e cujo
centro era Feliciano de Castilho. Mas, mais do que uma disputa literária, esta
foi uma discussão política, marcada pela visão positivista ou, mais ainda,
socialista de Antero. Sabendo isto, é com enorme estupefação que vimos um
excerto da carta “Bom Senso e Bom Gosto”, de Antero, a epigrafar a Moção de
Estratégia de Alexandre Gaudêncio ao Congresso do PSD/Açores. Escolher Antero
como figura tutelar só pode significar duas coisas: ou Gaudêncio não sabe quem
foi Antero, o que é grave, ou pretende um PSD/A socialista e revolucionário, o
que seria surpreendente. Porém, o que as duas mostram é uma enorme e confrangedora
falta de cultura política e literária.
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
quinta-feira, 20 de setembro de 2018
Café Royal XC
Os Areais
Naquele tempo, íamos surfar, às escondidas, para o Monte Verde. A primeira vez que fomos aos Areais foi com o Armindo e o Marco Sousa. Entrando pelo lado onde hoje é o Tuká Tulá, não havia praia. Era um imenso calhau, espécie de despojos da rapina dos apanhadores ilegais de areia. Do outro lado, junto ao morro de Santana, a entrada era feita pela estrada. Seguíamos por um caminho de terra e descíamos o pequeno carreiro na falésia até à praia, ao encontro daquele lugar paradisíaco e incólume, apenas nós e algumas das mais fantásticas ondas da ilha. Hoje, a praia dos Areais de Sta. Barbara é uma das melhores e mais utilizadas zonas balneares da ilha e é, também, um importante cartaz turístico, fruto da projecção global dos campeonatos de Surf. E é com um enorme orgulho que sei que o aproveitamento e qualificação de um valioso pedaço desta ilha se ficou a dever, também, ao empenho e vontade de um pequeno grupo de surfistas. Os Areais são um feliz exemplo de como as boas vontades, se bem orientadas, podem trazer benefícios para todos. Quão bom seria se esse exemplo fosse seguido, por outras pessoas, noutros lugares destas ilhas…
in Açoriano Oriental
Naquele tempo, íamos surfar, às escondidas, para o Monte Verde. A primeira vez que fomos aos Areais foi com o Armindo e o Marco Sousa. Entrando pelo lado onde hoje é o Tuká Tulá, não havia praia. Era um imenso calhau, espécie de despojos da rapina dos apanhadores ilegais de areia. Do outro lado, junto ao morro de Santana, a entrada era feita pela estrada. Seguíamos por um caminho de terra e descíamos o pequeno carreiro na falésia até à praia, ao encontro daquele lugar paradisíaco e incólume, apenas nós e algumas das mais fantásticas ondas da ilha. Hoje, a praia dos Areais de Sta. Barbara é uma das melhores e mais utilizadas zonas balneares da ilha e é, também, um importante cartaz turístico, fruto da projecção global dos campeonatos de Surf. E é com um enorme orgulho que sei que o aproveitamento e qualificação de um valioso pedaço desta ilha se ficou a dever, também, ao empenho e vontade de um pequeno grupo de surfistas. Os Areais são um feliz exemplo de como as boas vontades, se bem orientadas, podem trazer benefícios para todos. Quão bom seria se esse exemplo fosse seguido, por outras pessoas, noutros lugares destas ilhas…
in Açoriano Oriental
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Café Royal LXXXIX
A Escola
Vão recomeçar as aulas. Como
se o fim do Verão e as agruras típicas do regresso ao trabalho não fossem, já
de si, angustiantes o suficiente, eis que, de supetão, cai sobre pais e filhos,
professores e alunos, o tormentoso turbilhão do regresso à escola. Os horários,
as actividades extracurriculares, os manuais, os materiais, as mochilas, as
roupas, todo um infindável rol de pequenos/grandes problemas que, por estes
dias, consomem quase por completo uma grossa fatia da sociedade. Até aos avós
hão de chegar as ondas de choque do ano lectivo. As nossas sociedades
transformaram a Escola num espaço de contenção das crianças e, até, em certo
sentido, dos pais. A padronização e sistematização dos processos e das regras do
sistema educativo criaram um ambiente quase que opressor para todos os que, de
uma forma ou de outra, lidam com a Escola. Horários rígidos e excessivamente
longos. Currículos padronizados, avaliações quantitativas. (Já para não falar
nessa instituição arcaica chamada “trabalhos de casa”, que transporta a escola
para dentro da vida familiar, desesperando as crianças e infernizando os pais).
Valerá a pena perpetuar este sistema?
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
Café Royal LXXXVIII
Vontade
Depois de uma
apresentação mediática, foi ontem tornada pública a Moção de Vasco Cordeiro ao
próximo Congresso do PS Açores. O documento aponta 3 grandes áreas de actuação:
Afirmação dos Açores no contexto nacional e internacional; Coesão entre as
ilhas; Qualificação da Democracia. Dos 3, há um que merece destaque – “Reforçar
a Coesão Partindo da Diferença”. Aí é expressa a intenção de olhar para o desenvolvimento
económico e social das ilhas, partindo da identificação e valorização das
diferenças entre elas e já não da tentativa de as tornar iguais, algo que
culminou na efervescência bairrista que os Açores vivem hoje. O que fica por
saber é se esta ambição de Vasco Cordeiro, em si válida e extremamente
necessária, se resumirá apenas a um mero texto de uso político. Ou, pelo
contrário, mais do que uma mera ambição, a sua vontade é levar realmente a
cabo, ilha a ilha, este novo paradigma de governação. Se for assim, esse será o
seu maior legado à Região e um cortar, definitivo, com as políticas, e os
políticos, do passado. Esperemos que sim…
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