quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Café Royal XCI

Honrar Antero

A “Questão Coimbrã” foi uma das mais célebres polémicas da história nacional. Choque intelectual entre duas gerações, opôs o jovem Antero de Quental e o velho António Feliciano de Castilho. No cerne da disputa estavam duas concepções distintas do papel da literatura na sociedade. Para Antero e a sua “Geração de 70”, a literatura deveria ser o motor da revolução social, por oposição à visão imobilista e ultrarromântica daquilo a que Antero chamou a “Escola do Elogio Mútuo” e cujo centro era Feliciano de Castilho. Mas, mais do que uma disputa literária, esta foi uma discussão política, marcada pela visão positivista ou, mais ainda, socialista de Antero. Sabendo isto, é com enorme estupefação que vimos um excerto da carta “Bom Senso e Bom Gosto”, de Antero, a epigrafar a Moção de Estratégia de Alexandre Gaudêncio ao Congresso do PSD/Açores. Escolher Antero como figura tutelar só pode significar duas coisas: ou Gaudêncio não sabe quem foi Antero, o que é grave, ou pretende um PSD/A socialista e revolucionário, o que seria surpreendente. Porém, o que as duas mostram é uma enorme e confrangedora falta de cultura política e literária.
 

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