Na política
não há verdade. Bismarck, com ironia, colocou a questão de forma brilhante ao
afirmar que nunca se deve acreditar em nada na política até ter sido
oficialmente desmentido. Hoje em dia, até à pós-verdade nos fomos,
indulgentemente, habituando. Com o passar do tempo, também, a narrativa
política e partidária transformou-se num monstro autofágico, alimentando-se de
si própria numa torrente infindável de mentira. Nada tem valor perante essa
roldana trituradora, nem mesmo as pessoas, que são descartadas, para lá do seu
bom nome, nas suas próprias vidas. E já nem a decência é limite para a
voracidade dos políticos e dos seus (maus) conselheiros. Um político inventa
suicídios para tirar ganho político e nós olhamos para o lado com descrença e
asco. Quando nos munimos da tragédia e quando, inacreditavelmente, inventamos a
tragédia para tirar ganhos no debate político descemos a um novo e dantesco
patamar do inferno. Sem verdade e sem ética as nossas sociedades tornaram-se
num fétido lamaçal, onde já nem a vida tem valor. Como comunidade, temos a obrigação
de traçar aqui, nesta simbólica tragédia de Pedrogão Grande, o limite. O limite
do que é aceitável no discurso político, não permitindo que o horror da morte
seja utilizado como joguete. E, mais importante, o limite do que é tolerável na
acção política e partidária que no seu jogo sujo e desavergonhado colocou o
país neste estado. Basta!
Profissionais da indignação
Há 3 horas
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