quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Café Royal CXLIII


A letra da lei

No último mês de Julho veio a público o rocambolesco episódio das golas antifumo. O que estava em causa, entre outras coisas, era o envolvimento de um Secretário de Estado na contratação de uma empresa detida por familiares de um adjunto. Ao melhor jeito da saloiice nacional, o PS e o Governo ensaiaram uma fuga para a frente, reclamando que “seria um absurdo a interpretação literal” de uma lei de 1993, que até hoje nunca fora contestada por nenhum governo ou partido. Vai dai, é pedido um parecer, pelo Primeiro-ministro, ao Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República, para o “completo esclarecimento”, sobre a letra da lei, da já famosa Lei das Incompatibilidades dos Titulares de Cargos Públicos. Ora, o que torna tudo isto ridículo não é as golas pegarem fogo, ou a tentativa de interpretação a gosto das leis, nem sequer a ostensiva e inescrupulosa falta de ética dos nossos governantes, o que torna tudo isto verdadeiramente absurdo é o esquizofrénico facto de, na mesma semana, o mesmo Ministério Publico, constituir como arguido o Secretario de Estado, enquanto o seu Conselho Consultivo acha que a lei não pode, afinal, ser lida literalmente.


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