São Marcelo
Estas presidenciais não foram mais do que uma pequena e
irritante lomba, um curto semáforo, no marcelismo reinante. Essa foi, aliás, a
melhor metáfora da noite. As imagens daquele homem só, ao volante, conduzindo
sem nexo pelas ruas de uma cidade universitária deserta, às curvas, parando nos
semáforos, acossado por paparazzis, em busca de um rumo ou, quiçá, de um
tempo útil para estacionar. Antes, tínhamos acompanhado o seu ar melancómico, de
andar arrastado, a ir buscar um bitoque ao tasco do bairro, saco de plástico
caído sob o peso dos ombros. Ou, o aspeto ascético, monástico até, do
candidato/presidente, sozinho em casa, deambulando um pouco atarantado pela
cozinha, as garrafas de vinho passado, abrindo uma carta do banco no preciso
momento em que as televisões lhe cantavam vitória, num justo e adequado final
para uma campanha em que esse homem, que se julga providencial, achou com toda
a arrogância que nem precisava de ir a jogo. Levado por uma ideia sebastiânica
de si próprio, líder solitário e autocrata que, como o velho de Santa Comba, salvará
intrépido o país. Ao mesmo tempo, 60,5% dos eleitores disseram estar-se a
marimbar para esta patetice em que se tornou a política à portuguesa.
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